segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O Mercador de Veneza

            

 

                                   O Mercador de Veneza


SUMÁRIO




1.1 Biografia

1.2  Contexto histórico

1.3  Links

1.4 Pinturas

1.5  Comparação

1.6 Crítica

1.7 Citações






Resumo: A trama de O Mercador de Veneza se passa no século XIV na cidade de Veneza, na Itália – na época uma das cidades mais prósperas do mundo graças ao comércio. O Mercador de Veneza começa com os problemas de Bassânio, um jovem de origem nobre porém sem muito patrimônio, que deseja casar-se com a herdeira Pórcia. Para isso, precisa fazer uma viagem de três meses, mas não tem dinheiro para tal. Então, recorre a seu amigo Antônio, um os mais ricos comerciantes de Veneza e um homem muito bom. Antônio explica ao amigo que não tem dinheiro para emprestar, uma vez que seus navios e bens estão no mar, mas que ele pode ser fiador caso o Bassânio vá atrás de um empréstimo. Nesse momento, Bassânio contata o judeu Shylock. Ocorre que Shylock odeia Antônio por seu anti-semitismo, e ao ver que ele será o fiador, faz uma proposta especial: se ele não for pago até a data especificada, receberá uma libra da carne de Antônio. Bassânio não deseja pegar o dinheiro nessas condições, mas Antônio consente e assina o contrato. Então, com os recursos em mãos, Bassânio viaja para Belmonte para conquistar Pórcia, com seu amigo Graciano. Em Belmonte, uma pequena prova – criada pelo pai de Pórcia – aguarda seus pretendentes. Há três baús: um de ouro, um de prata e um de chumbo. O pretendente que escolher o baú certo poderá se casar com a jovem. O primeiro e o segundo pretendente escolhem, respectivamente, os baús de ouro e prata, e são rejeitados. Já Bassânio escolhe o baú de chumbo, sem se deixar enganar pela aparência pomposa dos outros dois baús, e recebe a mão de Pórcia em casamento. 
Enquanto isso, em Veneza, Antônio desobre que seus navios se perderam em alto-mar. Agora, ele não tem mais dinheiro para pagar Shylock, que resolve vingar-se; Antônio é preso e levado ao tribunal. Bassânio, após seu casamento com Pórcia, descobre o problema em que seu amigo se encontra e parte imediatamente para Veneza; já Pórcia, na tentativa de ajudar o marido e seu amigo, convoca seu primo advogado Belário. No tribunal, Bassânio oferece a Shylock o dobro do que havia pego emprestado, mas o vingativo judeu exige a libra de carne de Antônio. Quando tudo parece perdido, surge um jovem disfarçado dizendo ser “doutor em direito”. Esse jovem, na verdade, é Pórcia disfarçada. Primeiro, Pórcia pede misericórdia a Shylock, mas ele não cede. Em seguida, ele vai proceder a retirar a carne de Antônio, quando Pórcia aponta uma particularidade do contrato: Shylock pode retirar uma libra da carne de Antônio, mas não pode retirar o sangue. Assim, se Shylock derramasse uma gota sequer do sangue de Antônio, pelas leis de Veneza deveria ter suas terras e bens confiscados. Assim, Shylock aceita sua derrota e diz que aceita a quantidade em dinheiro oferecida por Antônio – mas Pórcia argumenta que ele não poderia mais aceitar depois de ter recusado. Ela ainda usa uma manobra jurídica para passar metade de todos os bens de Shylock a Antônio.

Biografia do Autor:  William Shakespeare  é considerado um dos mais importantes dramaturgos e escritores de todos os tempos. Seus textos literários são verdadeiras obras de arte e permaneceram vivas até os dias de hoje, onde são retratadas freqüentemente pelo teatro, televisão, cinema e literatura.

Nasceu em 23 de abril de 1564, na pequena cidade inglesa de Stratford-Avon. Nesta região começa seus estudos e já demonstra grande interesse pela literatura e pela escrita. Com 18 anos de idade casou-se com Anne Hathaway e, com ela, teve três filhos. No ano de 1591 foi morar na cidade de Londres, em busca de oportunidades na área cultural. Começa escrever sua primeira peça, Comédia dos Erros, no ano de 1590 e termina quatro anos depois. Nesta época escreveu aproximadamente 150 sonetos.

Embora seus sonetos sejam até hoje considerados os mais lindos de todos os tempos, foi na dramaturgia que ganhou destaque. No ano de 1594, entrou para a Companhia de Teatro de Lord Chamberlain, que possuía um excelente teatro em Londres. Neste período, o contexto histórico favorecia o desenvolvimento cultural e artístico, pois a Inglaterra vivia os tempos de ouro sob o reinado da rainha Elisabeth I. O teatro deste período, conhecido como teatro elisabetano, foi de grande importância. Escreveu tragédias, dramas históricos e comédias que marcam até os dias de hoje o cenário teatral.

Os textos de Shakespeare fizeram e ainda fazem sucesso, pois tratam de temas próprios dos seres humanos, independente do tempo histórico. Amor, relacionamentos afetivos, sentimentos, questões sociais, temas políticos e outros assuntos, relacionados a condição humana, são constantes nas obras deste escritor.

No ano de 1610, retornou para Stratford, sua cidade natal, local onde escreveu sua última peça, A Tempestade, terminada somente em 1613.  Em 23 de abril de 1616 faleceu o maior dramaturgo de todos os tempos, de causa ainda não identificada  pelos historiadores.

Principais obras :

- Comédias: O Mercador de Veneza, Sonho de uma noite de verão, A Comédia dos Erros, Os dois fidalgos de Verona, Muito barulho por coisa nenhuma, Noite de reis, Medida por medida, Conto do Inverno, Cimbelino, Megera Domada e A Tempestade.

- Tragédias: Tito Andrônico, Romeu e Julieta, Julio César, Macbeth, Antônio e Cleópatra, Coriolano, Timon de Atenas, O Rei Lear, Otelo e Hamlet.

- Dramas Históricos: Henrique IV, Ricardo III, Henrique V, Henrique VIII.

Frases de Shakespeare:

- "Dê a todos seus ouvidos, mas a poucos a sua voz."
- "Antes ter um epitáfio ruim do que a maledicência durante toda a vida."
- "Ser, ou não ser, eis a questão."
- "Sem ser provada, a paciência dura".
- "As mais lindas jóias, sem defeito, com o uso o encanto perdem".
- "Pobre é o amor que pode ser contado".
- "Nada me faz tão feliz quanto possuir um coração que não se esquece de seus amigos".


Contexto Histórico da Obra: Nas obras de Shakespeare, existe todo um contexto histórico que espelha a passagem da Idade Média para a Modernidade, isto se é que o dramaturgo realmente existiu. Segundo alguns especialistas, afirmam que Shakespeare é um pseudônimo que representa um conjunto de autores que produziam peças em conjunto. Enquanto outros admitem a existência de Shakespeare, mas defendem a idéia de que não foi ele que escreveu todos os textos atribuídos a sua pessoa. Hipóteses que transitam entre os eruditos desde o século XVIII.
 De qualquer forma, a obra “O mercador de Veneza” teria sido escrita entre 1594 e 1597, retratando o contexto do comercio de especiarias, o qual seria fundamental para alavancar o mercantilismo e o nascente sistema capitalista.
Em sua Comédia “O mercador de Veneza”, escrita entre 1596 e 1601, o inglês William Shakespeare termina por refletir todo um período de transição que compreende a passagem da Idade Média para a Moderna.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1.      Qual tema? (áreas envolvidas na trama da história).

A peça fundamenta-se nas moralidades medievais em que os Judeus são vistos como pessoas ruins e desonestas. Infere-se que neste contexto histórico, os judeus sempre eram descritos na literatura inglesa como estrangeiros avarentos e gananciosos. Este arquétipo social permeou o pensamento medieval legitimando de certa forma o antissemitismo.
A discriminação baseava-se na concepção bíblica de que os semitas eram descendentes de Sem,filho mais velho de Noé e que eles foram responsáveis pela morte de Jesus Cristo. Nesse contexto as memórias bíblicas foram controladas e negociadas entre diferentes grupos e sistemas de poder. Ainda que não possam ser confundidas com a verdade, as memórias tiveram valor social de verdade e foram difundidas e reproduzidas como se fossem a verdade. Tal concepção foi uma das premissas do nazismo na Alemanha.

2.      Qual objetivo? (o que o autor quer demostrar?)

Algumas obras literárias apresentam uma relação estreita com a história, expressando as relações sociais, ideológicas e muitas vezes políticas e econômicas de determinado contexto social. Talvez, o pressuposto ingênuo (ou intencional) de Shakespeare, foi o de caracterizar a estrutura social na Inglaterra do século XV.

3.      Quais argumentos fortes para defender e acusar?

Em toda peça é possível observar as conotações e os argumentos implícitos, interligando-os com as ideias explícitas da narrativa. Entretanto, para tentar responder adequadamente, tomaremos como objeto de análise a cena em que a dívida contratual é cobrada no tribunal do Duque de Veneza. O argumento forte para acusar, relaciona-se com a obrigatoriedade de Antonio cumprir o que foi firmado no contratado de empréstimo de Shylock. A narrativa mostra que Bassânio ofereceu o dobro do valor devido, contudo, Shylock optou por resguardar na íntegra o cumprimento do contrato. O argumento para defender fundamenta-se na própria interpretação literal do contrato como mecanismo defesa. Pórcia disfarçada de juíz aponta que Shylock só poderia remover uma libra de carne. Caso Shylock retirasse alguma gota de sangue de Antonio, de acordo com a legislação, ele estaria quebrando o contrato e teria todos os bens confiscados de acordo com as leis de Veneza.

4.      O que ficou decidido? (Houve ou não justiça?)

Partindo do pressuposto de que justiça é um conceito que apresenta muitas perspectivas, tomaremos como referência o conceito de Aristóteles que preconiza que a Justiça se localiza na seara das virtudes em dar a cada um o que é seu, na medida de seus méritos, não se apropriando de nada mais nada menos daquilo que lhe é devido.
No caso representado na obra “O Mercador de Veneza” fica evidente a dissimulação jurídica quando Pórcia atua como juiz quando não tinha essa prerrogativa. Os personagens que acusam Shylock de mau caráter recorrem a estratégias reprováveis para vencê-lo. É evidente que leitura que fazemos hoje é situada. Não seria socialmente aceitável em nosso contexto social que a cobrança de uma dívida fira a dignidade da pessoa humana, como no caso, a cobrança de uma libra de carne. Mas no contexto representado na obra, esse acordo era socialmente aceitável o que ratifica que as motivações para o não cumprimento do contrato foram deliberadamente baseadas em um protecionismo.
Em decorrência do dano causado não houve justiça, pois Shylock não teve o valor do empréstimo ressarcido e as motivações para prejudicar Shylock foram prioritariamente baseadas em critérios religiosos.

Links para mais informações sobre a obra:

Link para assistir o filme "O Mercador de Veneza":


Link com uma entrevista discursiva sobre a Obra:


Link para assistir uma peça da Obra:




Pinturas e Fotos sobra a Obra:

                          
 Jessica e Shylock, personagens de "O mercador de Veneza", num quadro de Maurycy Gottlieb





                                      Cena do filme: O mercador de Veneza





                                                   Filme: O mercador de Veneza (capa)







                                                  Uma das Versões  da obra







 Judeu Shylock (cena do filme)






                                    Personagem Shylock (foto da obra de Shakespeare)







Imagem da cidade de Veneza- Itália (ao entardecer)



  Comparação com a atualidade:

Fazendo um comparativo entre a narrativa da obra O Mercador de Veneza e o nosso ordenamento jurídico, percebe-se que o contrato celebrado entre as partes denota-se nulo, haja vista ao fato de que Shilock não manteve observância com a boa-fé objetiva, tampouco com os preceitos constitucionais que preza pela dignidade da pessoa humana.
Como é cediço o Judeu não poderia colocar como garantia na falta do adimplemento da obrigação uma libra de carne do corpo do devedor. Pois, na falta do adimplemento da obrigação restará ao devedor responder com os seus bens patrimoniais e pessoais.
A má-fé do judeu é provada quando ele induz Antônio a assinar o contrato sob o argumento de que a cláusula (pena com a libra de carne) seria de brincadeira, e após o próprio deixar transparecer que odiava Antônio pelo fato do mesmo emprestar dinheiro de forma gratuita ocasionando a queda nas taxas de juros em Veneza.


Críticas sobre a obra e o filme (links):



Crítica sobre o filme baseado na obra ( link acima)



  Citações com Críticas da obra:

Por: MARCELO HESSEL






OS dilemas morais e éticos, herança da tragédia grega, são o forte da obra de William Shakespeare (1564-1616). Hamlet Macbeth são os seus melhores exemplos, mas O mercador de Veneza, clássico de 1596, também se enquadra entre as peças do bardo inglês que evitam o maniqueísmo e levantam questões muito acima do Bem e do Mal. A nova versão da história para as telas, dirigida por Michael Radford, tenta preservar essa complexidade.
Na trama, o jovem e livre Bassanio (Joseph Fiennes, mau ator que se sai bem com diálogos declamados) aproveita o poder que sua beleza exerce sobre o amigo Antonio (Jeremy Irons, impecável, ciente da ambiguidade do personagem) para pedir, com jeito e cerimônia, uma quantia de dinheiro a fim de cortejar uma rica herdeira. Antonio é um comerciante exitoso, dos mais tradicionais de Veneza, porém seu dinheiro está investido em embarcações que navegam em águas incertas na Ásia e no Novo Mundo. Só há uma maneira de ajudá-lo: pedir um empréstimo ao judeu Shylock (Al Pacino, cada vez mais maneirista), que faz da agiotagem, prática ilegal na cidade, o seu ganha-pão.
Shylock vive desse jeito, aparentemente, por lhe faltar alternativa. Os judeus, tidos como estrangeiros gananciosos, não têm os mesmos direitos dos cristãos na Itália. São insultados, apedrejados, precisam trafegar pelos canais e pelas pontes com uma boina vermelha - sinal que facilita a vigia. A primeira sequência do filme já demonstra que a rivalidade religiosa terá desdobramentos: Shylock tenta cumprimentar Antonio, que responde com uma cusparada na cara do judeu.
Agora, é Antonio quem pede desculpas em nome do dinheiro, em nome da amizade com Bassanio. Shylock sugere o seguinte acordo: se o débito não for pago em três meses, o cobrador receberá como pagamento um pedaço da carne do comerciante. Bassanio se opõe, Antonio aceita, sem medo de se ferir. Fica evidente, independente do sucesso de Bassanio como galanteador de moças, que Shylock busca por vingança. E o que O mercador de Veneza faz é transcorrer paciente como uma ampulheta, num balé funebre de gôndolas sobre as águas, até chegar o momento do acerto de contas.
E a grande questão moral é: Shylock, os judeus, têm ou não direito de revidar? Meandros do direito adquirido, da justiça dos homens e da justiça de Deus, da responsabilidade diante dos próprios atos e dos atos alheios - é essa a pauta shakespeareana em discussão. Esse debate transcorre numa linguagem fiel ao original, cheia de discursos graves e falas empoladas - o que pode desagradar o público mais acostumado com naturalismos. Radford é um acadêmico (ou burocrata, dependendo do ponto-de-vista), não se arriscaria numa adaptação diferente.